Entre o mar e a fé: o que seria dessa cidade sem Antônio?
Foto: Sara Gomes.

Antes do fogo de João e do coração de Pedro, é Antônio quem inaugura o ciclo dos santos populares na Bahia. E se há uma cidade onde ele caminha pelas ladeiras com intimidade, é Salvador. Não só pela colina, que guarda seu nome — alguma foto você tem por lá —, mas porque ele habita o coração da cidade de forma duradoura: às vezes invisível, quase sempre profunda.

A estátua de Santo António no cimo da igreja de mesmo nome. Foto: Paulo Munhoz.

Santo Antônio, por aqui, não é só casamenteiro. É padroeiro dos esquecidos, dos pobres, dos que perdem coisas e acham forças. É santo de promessa sussurrada e pão – ou celular – abençoado na bolsa. É andor carregado por devotos de todas as cores e classes, cruzando ruas ornadas com bandeirolas e fé ou fontes de memórias da infância e das canções ouvidas – “Maldade que vem, vai/ Vira flor da alegria/ Trezena de junho/ É tempo sagrado na minha Bahia”, música de J. Velloso na voz dos Doces Bárbaros.

Nos bairros, há sempre uma capela, uma imagem, uma ladainha. Nos bairros que levam seu nome ou fazem fronteira, a festa é barulhenta, bonita e coletiva — mas não só; há também o silêncio das orações feitas nas sacristias, nos lares e altares improvisados com folhas de manjericão e fitinhas do Bonfim. Salvador não celebra Santo Antônio com distanciamento. Ela se entrega. Se enfeita. Se reza.

Foto: Paulo Munhoz.

A colina que leva seu nome parece ter sido moldada para o reconhecimento: o pôr do sol mais bonito, os casarões que resistem, os moradores que misturam tradição e boemia ainda participam de uma ideia de Bahia. As pessoas se encostam, fotografam, legendam: “vejam onde eu vim parar”. O Santo Antônio Além do Carmo virou bairro-desejo, cenário de post e festa, mas não só: ainda mantém o ritmo de um tempo onde se dançava forró ao som de sanfona e se benzia o coração com água de cheiro.

Foto: Paulo Munhoz.

Celebrar Santo Antônio em Salvador é celebrar aquilo que a cidade tem de mais bonito: a capacidade de unir o sagrado e o popular com a música, a devoção e o festejo com a memória, o passado e o agora com o nestante. É entender que aqui a fé não está apenas nos terreiros ou nas igrejas — mas também nos becos, nos corpos, nas vozes que cantam em coro: “Valei-me, meu Santo Antônio!”

Enquanto houver junho, haverá Antônio – e enquanto houver Salvador, haverá festa com cheiro de fé.

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